Os primeiros Jogos Mundiais Indígenas serão realizados em Palmas, capital do Tocantins, entre os dias 23 de outubro e 1º de novembro. O impacto e o legado do evento na cidade e no país foram discutidos nesta quarta-feira (12) em audiência na Comissão de Educação, Cultura e Esporte.
Durante a audiência, foi mostrado um vídeo, apresentado por Hector Franco, secretário extraordinário dos Jogos pela prefeitura de Palmas, com depoimentos e notícias de veículos de comunicação estrangeiros sobre o evento. Foi destacado trecho da afirmação de correspondentes da agência de notícias Reuters segundo o qual os Jogos Mundiais Indígenas serão tratados pela empresa jornalística “com a mesma dimensão que terão os Jogos Rio 2016”.
Devem participar da competição cerca de 2 mil atletas, representantes de mais de 30 países dos cinco continentes, entre eles Rússia, China, Japão, Austrália, Noruega, Nova Zelândia, Nigéria e Filipinas, além de nações africanas e das três Américas.
O presidente da CE, senador Romário, garantiu que irá participar da cerimônia de abertura. Também ressaltou que durante sua carreira de atleta profissional percebeu a importância do esporte na congregação e compreensão das diversas culturas de todo o mundo.
— E que bom que durante todos os dias serão realizados debates, shows e feiras de valorização da cultura dos povos indígenas — disse.
Marcos Terena, funcionário da Funai (Fundação Nacional do Índio) e um dos coordenadores dos jogos, confirmou que, paralelamente às competições, serão realizadas uma série de atividades, como debates e articulações de movimentos sociais, uma feira de alimentação indígena, um desfile de moda e uma feira de artesanato. Segundo Terena, artistas como Carlinhos Brown e Margareth Menezes, entre outros, deverão se apresentar. Também confirmaram presença o ex-jogador Cafu, capitão da conquista do pentacampeonato na Copa do Mundo de 2002.
Legado
O senador Donizeti Nogueira (PT-TO) afirmou não ter dúvidas de que os jogos serão um sucesso e poderão promover Palmas como um destino de qualidade para o turismo de eventos e de aventura. Apenas fez questionamentos quanto a outros legados que a realização do evento poderá trazer.
Em resposta ao senador, Hector Franco afirmou acreditar que o maior legado dos jogos deverá ser intangível, ou seja, “a promoção dos valores e das boas filosofias indígenas não só em nosso país como em todo o mundo”. Mas lembrou que a Vila Olímpica, após os Jogos, abrigará uma escola de tempo integral, um centro de eventos e um espaço para a prática de esportes que poderá ser usufruído tanto por atletas quanto pela população.
Franco citou ainda, entre os legados, a reforma do estádio Nilton Santos, que será utilizado para as competições de futebol, e a valorização das áreas tanto em torno da Vila Olímpica quanto do próprio estádio. Disse ainda que essas áreas deverão no futuro serem integradas aos trechos atendidos pelo BRT (Bus Rapid Transit) do município.
Claudia Lelis, vice-governadora do Tocantins, afirmou que a parceria do estado com a prefeitura e o governo federal garantirá um padrão de excelência para a organização dos jogos, comparável ao visto na Copa do Mundo.
— Não tenho dúvidas de que serão um sucesso e motivo de orgulho para nós, de Palmas, e para os brasileiros como um todo — afirmou, ressaltando já existir uma expectativa na população em relação ao evento.
Lelis vê ainda nos jogos uma janela para demonstrar a todo o mundo a possibilidade de integrar as culturas e modos de vida de povos tradicionais, num processo de colaboração e conhecimento mútuo sem aculturação.
Apoio dos senadores
Outros senadores também participaram da audiência e demonstraram apoio ao evento. Lídice da Mata (PSB-BA), uma das autoras do requerimento para realizar a audiência e que conduziu os trabalhos após a fala inicial de Romário, garantiu que vai trabalhar para que a Bahia sedie a edição seguinte dos Jogos Nacionais Indígenas.
Ângela Portela (PT-RR) também vê com otimismo os jogos.
— [Será] Uma oportunidade única para que esses povos mostrem o valor de suas culturas e que divulguem também suas reivindicações sociais — afirmou.
Já Telmário Mota (PDT-RR) reclamou de pontos da Agenda Brasil, defendida pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). No entender de Telmário, direitos indígenas podem ser atingidos. Ele citou especificamente os novos marcos regulatórios da mineração, quanto à produção e licenciamento em áreas indígenas.
Durante a audiência, Marcos Terena revelou que mantém sua reivindicação junto à presidente Dilma Rousseff, para que nomeie um índio para a presidência da Funai. Ele vê a situação atual do órgão como de “falência, esvaziamento e enfraquecimento político, responsabilidade de gestões passadas”, a despeito de haver funcionários capacitados.
Terena informou também que a cozinha da Vila Olímpica contará com o trabalho de diversos indígenas formados e estudantes de nutrição. Ele aproveitou para criticar os que ironizaram Dilma por sua menção recente à mandioca durante evento com representantes indígenas.
— A mandioca é a base da nossa alimentação, é o que nos dá a força física, e com ela fazemos ainda pão, farinha, beiju e cachaça.
Agência Senado