Brasileiros ilustres criticam organização da Copa

É crescente a lista de famosos decepcionados com a organização da Copa do Mundo no Brasil. Brasileiros ilustres, com fama internacional, como o cantor Ney Matogrosso, o ex-jogador Zico e o escritor Paulo Coelho foram alguns que lamentaram os problemas enfrentados pelo país às vésperas do mundial.

Os dois últimos tiveram ou têm ligação direta com a Copa. Paulo Coelho esteve em Zurique, na Suíça, no anúncio do Brasil como país. Na ocasião, o escritor esteve ao lado do ex-presidente Lula, do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e do ex-jogador Romário, atual deputado federal. Já Zico, sempre crítico da gestão da CBF, participou, recentemente, de entrega de ingressos para operário das obras de estádios. Zico foi anunciado como garoto-propaganda do mundial, em ação do Comitê Organizador Local (COL) da Copa.

Questionado se viria assistir aos jogos no Brasil, Paulo Coelho disse a ida aos estádios estava fora de questão e que assistiria pela TV. “Estava na delegação oficial com Lula, Dunga e Romário quando a FIFA escolheu o Brasil. Mas estou muito decepcionado com tudo o que aconteceu desde então. Nós poderíamos usar o dinheiro para construir algo diferente em um país que precisa de tudo: hospitais, escolas, transportes”, declarou.

Zico lembrou uma promessa feita por Lula e Ricardo Teixeira, ainda em 2007, de que os estádios seriam construídos com 99% de dinheiro privado. “Os estádios foram construídos em grande parte com dinheiro público e as pessoas não estão contentes com isso, já que quando os organizadores conquistaram o direito de sediar a Copa do Mundo, eles disseram que o dinheiro público seria colocado apenas nos projetos de infraestrutura.”, lamentou o ex-jogador.

O maior artilheiro do Maracanã também lamentou a desmotivação do brasileiro com o mundial. “Os torcedores estão desanimados, preocupados. É chato porque eu queria ver meu povo feliz. Todos queriam que fosse uma grande festa, mas simplesmente não houve a disposição adequada para organizá-la.”
Já o cantor Ney Matogrosso falou do desconforto do brasileiro com os bilhões gastos com a construção dos 12 estádios para a Copa. Para ele, a população reclama por não ver seus impostos serem revertidos em serviços públicos de qualidade.

Na conta da FIFA: Ministério Público propõe ações para evitar gasto de R$ 1,2 bi pela União

Em atuação preventiva, procuradores que integram o Grupo de Trabalho Copa do Mundo querem impedir pagamento de estruturas temporárias e de serviços para transmissão de jogos com dinheiro público

O Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF/DF) propôs duas ações à Justiça para evitar que União, estados e municípios paguem a conta de gastos com estruturas temporárias e serviços de telecomunicações para a realização da Copa do Mundo de 2014. A medida pode gerar uma economia de quase R$1,2 bilhão ao país. Segundo o órgão, esse tipo de despesa – que não tem interesse público e não deixará qualquer legado à população brasileira – deve ser bancada pela Fifa e pelo Comitê Organizador Local.

Em síntese, os procuradores alegam que não há interesse público no custeio de produtos e serviços transitórios, destinados exclusivamente à realização de um evento que é privado. Fazem parte deste grupo, por exemplo, gastos com assentos temporários, tendas, plataformas, passarelas, cercas, iluminação, cabos, mobiliário, divisórias e preparação de piso. Itens que serão desmobilizados após a Copa, sem deixar benefícios à sociedade.

O mesmo vale para os serviços de transmissão dos jogos. “Há interesse público no pagamento destes serviços, se a Fifa é a única detentora dos direitos de transmissão do evento e os comercializa a preços milionários?”, questionam os procuradores na ação judicial.

A hipótese, segundo eles, é completamente diversa dos gastos realizados pelo governo para oferecer infraestrutura ao evento, como obras de mobilidade urbana, redes de comunicação, portos e aeroportos, por exemplo. Nesse caso, ainda que os investimentos e projetos tenham sido idealizados, incentivados ou otimizados em razão da Copa, eles trarão melhorias ao país e aos cidadãos, defende o MPF.

Processos – A primeira ação do MP Federal foi proposta no início de setembro e tem como réus, além da União, Fifa e Comitê Organizador Brasileiro, o Distrito Federal e os 12 estados e municípios que sediarão os jogos da Copa: Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná, Ceará, Amazonas, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. O objetivo principal é impedir que estruturas temporárias da competição sejam arcadas com dinheiro público.

Só na Copa das Confederações, esse tipo de gasto consumiu R$ 229,7 milhões. Seis ações dos MPs locais cobram a conta na Justiça, em atuação articulada com o Ministério Público Federal. Para a Copa do Mundo, a previsão é que o gasto chegue a R$ 1 bi.

A ação do MPF narra que o compromisso de custeio das estruturas temporárias pelo Poder Público foi exigido pela Fifa três meses antes de a entidade anunciar as cidades-sedes escolhidas, já em 2009. A obrigação não constava na versão original do Contrato de Estádio. Tratou-se, portanto, de termo aditivo imposto pela Fifa sem qualquer possibilidade de discussão pelos signatários, afirma o órgão.

A segunda ação do MP Federal foi ajuizada em 16 de outubro e questiona o pagamento dos serviços para transmissão dos jogos com dinheiro público. São réus a União, a Fifa, o Comitê Organizador Local e a Telebrás. A justificativa é a mesma: ausência de finalidade pública, já que o serviço atende a interesse exclusivamente privado da Federação Internacional de Futebol.

O MPF relata que a própria União, em 2011, defendia o entendimento de que não seria responsabilidade do governo federal arcar com os custos dos serviços de telecomunicações para a Copa. Contudo, em janeiro de 2013 acabou cedendo às pressões e imposições da Federação.

Além da atuação preventiva em relação à Copa do Mundo de 2014, os procuradores querem o ressarcimento dos valores assumidos pela União em relação à Copa das Confederações, cerca de R$ 33,4 milhões. A ação questiona dois contratos firmados pelo Ministério das Comunicações com a Telebrás para fornecimento de serviços de transporte de dados para transmissão de áudio e vídeo e para os provedores de serviços de TI e de mídia durante o evento, realizado em junho de 2013.

Em medida liminar, o órgão pede que o pagamento seja depositado em juízo até a conclusão definitiva do processo. Para a Copa do Mundo, a estimativa de gastos para a transmissão das 64 partidas previstas é de R$ 130 milhões, valor que deve ser arcado pelos organizadores do evento, defende o MPF.

Fonte: Site do Ministério Público