Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que 47% da população brasileira é sedentária. Isso coloca o Brasil em quinto lugar entre os países com piores hábitos de atividades físicas regulares. O péssimo desempenho contribui significativamente para aumentar os problemas de doenças e óbitos. Na contramão desses dados, o Brasil possui 34 mil academias distribuídas nos 5.570 municípios.
Foi esse tema que lotou o plenário da Comissão de Assuntos Sociais, em audiência pública presidida pelo senador Romário (Pode-RJ), para debater sobre esse silencioso, mas grave, problema que cresce no Brasil. Pesquisas de organismos internacionais demonstram que os exercícios regulares são fundamentais na prevenção e tratamento das doenças crônicas não transmissíveis.
Em decorrência da falta de programas do governo para combater o sedentarismo, a Associação Brasileira de Indústria de Máquinas e Equipamentos calculou que o Sistema Único de Saúde gasta R$ 3,5 bilhões/ano com problemas da saúde. Nesse ritmo, em dez anos os gastos serão dez vezes mais. “A Associação Brasileira de Academias está liderando um movimento nacional para combater esse mal”, disse o ex-nadador Gustavo Borges, ganhador de quatro medalhas olímpicas.
Foi nessa associação que surgiu o movimento “Brasil+Ativo” para combater o sedentarismo e buscar reduzir as barreiras para a prática da atividade física, a partir da escola, como ocorre em outros países. “Precisamos envolver e sensibilizar o setor privado para a criação de uma sociedade mais ativa, com mais saúde. Para isso, é fundamental o engajamento da sociedade”, afirmou Gustavo Borges. Segundo o ex-atleta, o exercício regular não é um risco à saúde. Ao contrário, alivia os problemas que surgem na medida em que avança a idade. “A atividade física regular evita as dores e as lesões”, afirmou.
Mônica Marques, do Conselho Diretor da International Health and Racquets Sports Club Association, lembrou que em projetos desse tipo não se pode dispensar o segmento empresarial. E mostrou que o problema se repete mundo afora. Segundo pesquisas da OMS, 80% dos adolescentes no mundo não praticam atividade física suficiente.No Brasil, esse número só aumenta.. Por exemplo, cresceu de 42% para 53% a população com excesso de peso; de 22% para 25% o índice de hipertensos, e de 5% para 8,9% as pessoas com diabetes.
“É preciso reforçar que o exercício físico regular reduz em 35% os riscos de problemas cardiovasculares”, concluiu Mônica Marques. Para enfrentar essa realidade, o senador Romário sugeriu ao representante do Ministério da Saúde, Lucas Matturro da Silva, a implantação de projetos pilotos em algumas cidades para, conforme os resultados, atrair a parceria de prefeituras, empresários e governos estaduais. Romário lembrou que há milhares de instalações no Brasil. As Associações do Banco do Brasil, por exemplo, são 1.500 unidades em todos os estados. “Além dos clubes do Sesi, Sesc e demais do Sistema S”, que podem se engajar numa campanha nacional nesse sentido.
Experiente nesse tema, o presidente do Conselho Federal de Educação Física, Jorge Seteinhilber, lembrou que há décadas o Congresso Nacional debate sobre o aumento do sedentarismo. O aumento das desigualdades sociais, principalmente em comunidades carentes, contribui para isso. Mas, o principal entrave para Jorge é “a falta de uma política nacional de esporte”. Sem isso não teremos atividade física regular na escola. “Não se cria o hábito nos jovens estudantes. “Estou falando de menos esporte e competições da primeira a quinta séries, que ajudam na coordenação motora, no combate à obesidade infantil, por exemplo”, afirmou Jorge Steinhilber. E conclui: “Enquanto não se fizer isso, é doença certa no futuro”.
Gilson Carvalho, representante da Associação Brasileira de Indústria de Máquinas e Equipamentos, explicou que esse segmento tem os condomínios e as Forças Armadas como os principais clientes de equipamentos para academias. E reforçou a tese da OMS, que demonstra a importância de os governos desenvolverem programas públicos preventivos: “Para cada dólar investido em projetos de saúde, o Estado tem o retorno de 3,7 dólares” – são pessoas que, com melhor qualidade de vida, não vão aos hospitais públicos, internações etc.
Ao final da audiência pública o senador Romário convidou os debatedores para um novo encontro onde se debaterá a elaboração de um projeto piloto com o envolvimento do governo, empresários e instituições sociais, como as AABBs e Sistema S. A adesão ao convite foi geral.