Relatório de CPI propõe fim do monopólio de transmissão dos jogos; veja outras medidas

No relatório paralelo, apresentado na CPI do Futebol, os senadores Romário (PSB-RJ) e Randolfe Rodrigues (REDE-AP) propõem 11 medidas para modernizar o futebol brasileiro. Dentre as medidas está a criação de uma Liga Nacional de Futebol, a autonomia da Justiça Desportiva, o fim do monopólio nas negociações de transmissão dos jogos e a proibição de empresários e agentes na Comissão Técnica da Seleção Brasileira. Conheça todas as 11 medidas propostas e os argumentos dos senadores:

1 – Colégio Eleitoral
A primeira delas é a mudança da composição do colégio eleitoral da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), com a inclusão de representantes das séries C e D. O texto também sugere que participem do colégio eleitoral representantes do futebol feminino, dos técnicos e da arbitragem, em número a ser estipulado.

Atualmente, a assembleia da CBF é integrada pelos presidentes das 27 federações e representantes de cada um dos 20 clubes das Séries A e da Série B, totalizando 67 membros, ou 10% dos 684 clubes que disputam os campeonatos estaduais. “Esta representatividade para a tomada de decisões está longe de uma participação expressiva da comunidade geral do futebol, principalmente devido ao afastamento dos clubes do interior, onde é mais urgente uma ação da CBF para fortalecer o esporte”, diz o texto.

2 – Liga Nacional
Os senadores também propõem a formação de uma Liga Nacional. A ideia é deixar a cargo da CBF apenas a gestão das Seleções, em todos os níveis e categorias, deixando a Liga organizar os campeonatos masculino e feminino das séries A, B, C e D; Copa do Brasil, Campeonatos Sub-17; Sub-20 e seus correlatos no naipe feminino.
Romário e Randolfe apontam que a CBF gasta mais com a administração do que com investimento no futebol. Conforme o balanço anual da instituição, enquanto a CBF gasta R$ 190 milhões com administração e pessoal, são destinados apenas R$123 milhões a título de contribuição ao fomento do futebol nos estados e competições.
“Uma análise mais profunda e detalhada mostrará, quem sabe, que além de estar investido pouco no ‘fomento’, essa ‘contribuição’ privilegie mais as relações com as federações, integrantes do colégio eleitoral da CBF, do que o desenvolvimento efetivo de projetos que valorizem efetivamente o futebol do interior”, diz o relatório.

3 – Investimento no Futebol Feminino
O futebol feminino também tem espaço nas medidas propostas no relatório. Para os senadores, a CBF deverá investir mais e atrelar a competição do futebol feminino ao masculino nas séries A e B. A ideia é criar um vínculo afetivo às equipes femininas de seus respectivos clubes no grupo masculino.

4 – Arbitragem independente
Arbitragem independente é o quarto item proposto. A sugestão é garantir independência total da CBF, tanto na estrutura quanto na gestão. Segundo o texto, hoje a comissão de arbitragem está ligada à estrutura institucional da CBF, mas sem que os árbitros tenham vínculos trabalhistas. “Sugerindo uma disfarçada independência da categoria”, diz o documento.
“A real falta de independência dos árbitros de futebol é um dos motivos que agrava as suspeitas de fabricação de resultados, principalmente por possíveis pressões dos dirigentes dos clubes e da própria CBF”, aponta.

5 – Independência da Justiça Desportiva
O documento aponta que a entidade é “totalmente dependente das entidades de administração do esporte, revelando-se uma relação promíscua e resultando, em algumas ocasiões, em decisões judiciais altamente suspeitas de isenção institucional e legalidade jurídica”.

6 – Calendário
O atual modelo do calendário do futebol é outro ponto atacado pelo relatório: “É urgente a adoção de um calendário que não sacrifique os clubes da elite do futebol, enquanto despreza e prejudica as instituições das séries inferiores”, diz o documento.
“O modelo, que se renova há anos, envolve 14 campeonatos nas categorias profissionais e inferiores. Este sistema submete os jogadores, na maioria dos eventos, a uma maratona de viagens para disputas, muitas vezes em competições simultâneas, como os campeonatos regionais (Gaúcho, Carioca, Paulista,Mineiro etc), Copa do Brasil, Brasileirão, Libertadores”, apontam os senadores.

7 – Representação dos atletas na CBF
“Sem direito à voz ou voto na instituição onde ele, atleta, tem o seu registro profissional, as medidas adotadas pela CBF ou federações está capenga e age de forma autoritária”, diz o texto.
O relatório lembra que o Conselho Nacional do Esporte, órgão consultivo do Ministério do Esporte, há muito tempo acolhe representantes dos atletas em seu colegiado. Exemplo que deveria ser seguido, sugere o relatório da CPI.
“É impossível a prática esportiva sem a presença de atletas. Ele é o principal agente e na estrutura do esporte. Sem ele não há razão para a existência de clubes, federações ou confederações”, argumenta.

8 – Democratização das imagens do futebol
O texto sugere que a CBF combata monopólio das imagens do futebol e democratize as negociações de direitos de transmissões de eventos oficiais. Também registra a informação de que o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) analisa, desde maio de 2016 a legalidade do monopólio das transmissões do futebol pela Rede Globo de Televisão. A exclusividade abrange os principais campeonatos regionais e nacionais, com pacotes para os clubes de longo prazo.
A proposição da CPI é de que seja garantida a participação de todas as emissoras de TV interessadas na disputa comercial pelas imagens do futebol. Sugere, também, que seja assegurado o direito de transmissão de jogos pela TV pública.

9 – Balanço Financeiro
Senadores propõem que o balanço financeiro anual seja distribuído aos membros do colégio eleitoral da CBF trinta dias antes da votação.
Relatório aponta desinteresse dos membros da assembleia pela fiscalização das contas da CBF, impedindo que haja segurança para que se possa garantir total legalidade nos gastos da entidade. Isso ocorre, em parte, porque os eleitores (presidentes de federações, entre eles) são contemplados com repasses financeiros mensais da CBF, como já se explicou.

10 – Publicidade
CBF deve proibir a publicidade e patrocínios de bebidas alcoólicas e
cigarros em clubes, uniformes e eventos esportivos oficializados pela
entidade, defende o relatório.
“As bebidas alcoólicas e o fumo, em geral, são incompatíveis com o preparo e o desempenho físico dos atletas. Estes produtos são, antes, reconhecidamente prejudiciais à saúde e, por isso, devem ser proibidos de associações com qualquer iniciativa do futebol”, defendem.

11 – Seleção
Por fim, o documento sugere a proibição da participação de empresários e/ou agentes do futebol na Comissão Técnica da Seleção Brasileira.
“A Seleção Brasileira de Futebol não é e não pode se transformar
em balcão de negócios, nem servir de vitrine de ocasião para facilitar
transações de atletas”, finalizam os senadores Romário e Randolfe.

Organização criminosa tomou conta da CBF, diz relatório da CPI

Após um ano e meio de investigação, um relatório paralelo apresentado, nesta quarta-feira (23), na CPI do Futebol concluiu que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) foi tomada por uma organização criminosa, que tem como membros altos dirigentes da entidade, funcionários, empresários e até políticos. O documento com 1024 páginas é assinado pelo presidente da CPI, senador Romário (PSB-RJ), e pelo senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP).

Íntegra dos relatórios:

Romário e Randolfe: http://www19.senado.gov.br/sdleg-getter/public/getDocument?docverid=573b59d0-ac0d-4013-a790-7fbf54ef7efa;1.0

Romero Jucá: http://www19.senado.gov.br/sdleg-getter/public/getDocument?docverid=55acfe54-f0ba-4d65-b2f7-cd9e824d3ac8;1.0

O relatório apresentado hoje contrapõe ao protocolado pelo relator, senador Romero Jucá (PMDB-RR), criticado por ser meramente propositivo. “De um lado, temos o relatório chapa-branca, que apenas traz sugestões genéricas e indolores, sem investigação, sem relatos de crimes, sem qualquer sugestão de indiciamento. Do nosso lado, podemos afirmar que se trata de um documento produzido com muito trabalho e seriedade. Nele, estão descritos com riqueza de detalhes diversos crimes e a forma como eles foram praticados pelos dirigentes da CBF, de Ricardo Teixeira a Marco Polo Del Nero, passando por José Maria Marin”, afirmou o senador Randolfe ao defender o relatório alternativo.

Os membros da CPI pediram vistas e a votação dos relatórios ficará para a próxima sessão deliberativa da comissão.

A partir de documentos obtidos com o departamento de Justiça dos EUA, com a Polícia Federal brasileira e outros fruto de quebras de sigilos dos investigados, Romário e Randolfe conseguiram identificar o modus operandi do que eles chamam de organização criminosa. Baseado nisso os senadores pedem no relatório o indiciamento de nove pessoas: dos ex-presidentes da CBF Ricardo Teixeira e José Maria Marin (preso), do atual presidente Marco Polo Del Nero, dos ex-diretor financeiro da entidade Antônio Osório Ribeiro, do diretor jurídico Carlos Eugênio Lopes, dos empresário Kleber Leite e José Hawilla (preso), do prefeito de Boca da Mata, Gustavo Dantas Feijó, e do deputado federal, Marcus Antônio Vicente.

“Podemos resumir o assunto afirmando que praticamente tudo o que a CBF fez, sob a direção dessas pessoas citadas, foi corrompido. Fornecimento de bens e serviços, contratos de patrocínio, contratos de jogos amistosos, transferências de jogadores, tudo virou esquema para receber vantagens, que proporcionaram uma vida de luxo a dirigentes que só trabalharam para eles mesmos”, afirmou o senador Randolfe durante a sessão.

Os pedidos de indiciamento estão baseados em infrações penais listadas nos capítulos referentes ao caso FIFA; ao financiamento não declarado de campanhas eleitorais pela CBF e a um acordo fraudulento juntado no Superior Tribunal de Justiça – STJ, tudo isso descrito em longos capítulos do relatório. Parte importante das provas foram obtidas a partir da troca de emails entre Marco Polo Del Nero e diversas pessoas obtidas na operação Durkheim e compartilhadas com a CPI, todos anexados ao documento.

Obstrução

O relatório também descreve a forte obstrução que as investigações sofreram por parte de parlamentares ligados a CBF, assim como de lobistas que trabalham para a entidade. Fato que impediu o prosseguimento de várias investigações.

Documentos serão encaminhados ao Ministério Público Federal e à FIFA

Indiciamentos:

RICARDO TEIXEIRA,
Ex-presidente da CBF

Estelionato; crime contra a ordem tributária; crime contra o Sistema Financeiro Nacional; lavagem de dinheiro, organização criminosa; crime eleitoral, considerando o seu envolvimento nas infrações penais listadas nos capítulos referentes ao caso FIFA; e ao financiamento não declarado de campanhas eleitorais pela CBF (caixa 2).

JOSÉ MARIA MARIN
Ex-presidente da CBF (preso nos EUA)

Estelionato; crime contra a ordem tributária; crime contra o Sistema Financeiro Nacional; lavagem de dinheiro; organização criminosa; falsidade ideológica, considerando o seu envolvimento nas infrações penais listadas nos capítulos referentes à compra da sede da CBF; ao caso FIFA; e ao acordo fraudulento juntado no Superior Tribunal de Justiça – STJ;

MARCO POLO DEL NERO
Presidente da CBF

Estelionato; crime contra a ordem tributária; crime contra o Sistema Financeiro Nacional; lavagem de dinheiro; organização criminosa; crime eleitoral, considerando o seu envolvimento nas infrações penais listadas nos capítulos referentes à compra da sede da CBF; ao caso FIFA; e ao financiamento não declarado de campanhas eleitorais pela CBF (caixa 2).

GUSTAVO DANTAS FEIJÓ
Prefeito de Boca da Mata (AL)

Crime eleitoral, considerando o seu envolvimento nos ilícitos penais listados no capítulo referente ao financiamento não declarado de campanhas eleitorais pela CBF (caixa 2).

ANTONIO OSÓRIO RIBEIRO LOPES DA COSTA
Ex-diretor financeiro

Estelionato; crime eleitoral, considerando o seu envolvimento nas infrações penais relacionadas nos capítulos referentes à compra da sede da CBF; e ao financiamento não declarado de campanhas eleitorais pela CBF (caixa 2);

MARCUS ANTONIO VICENTE
Deputado federal

Falsidade ideológica, considerando o seu envolvimento no ilícito penal apontado no capítulo referente ao acordo fraudulento juntado no Superior Tribunal de Justiça – STJ, ressalvada prerrogativa constitucional prevista no art. 102, inciso I, alínea b, da Constituição Federal de 1988;

JOSÉ HAWILLA
Empresário (preso nos EUA)

Estelionato; crime contra a ordem tributária; crime contra o Sistema Financeiro Nacional; lavagem de dinheiro organização criminosa, considerando o seu envolvimento nos ilícitos penais listados no capítulo referente ao caso FIFA.

KLEBER FONSECA DE SOUZA LEITE
Empresário

Estelionato; crime contra a ordem tributária; crime contra o Sistema Financeiro Nacional; lavagem de dinheiro; organização criminosa, considerando o seu envolvimento nos ilícitos penais listados no capítulo referente ao caso FIFA.

CARLOS EUGÊNIO LOPES
Advogado da CBF

Falsidade ideológica, considerando o seu envolvimento no ilícito penal apontado no capítulo referente ao acordo
fraudulento juntado no Superior Tribunal de Justiça – STJ.