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Romário pede análise de contratos da CBF

Publicado em 18 de agosto de 2015 às 15:09

A CPI do Futebol vai analisar os contratos firmados pela CBF, entre eles os de amistosos. Na primeira audiência pública da comissão, na manhã desta terça-feira (18), o correspondente do jornal O Estado de S. Paulo na Suíça, Jamil Chade, entregou ao presidente da CPI, senador Romário (PSB-RJ), os documentos firmados entre a CBF e a ISE, empresa contratada para realizar os amistosos, além de sua subcontratada, a UPTrend.

Veja os depoimentos:

Jamil depôs na CPI do Futebol como convidado, ao lado dos jornalistas Juca Kfouri, colunista do jornal Folha de S. Paulo e da rádio CBN, e José Cruz, do Uol.

“Com os depoimentos, fica evidente que o futebol brasileiro é organizado a partir de uma estrutura viciada que explora a seleção brasileira a partir de contratos milionários com empresas fantasmas”, declarou o senador Romário. Ele sugeriu ao relator Romero Jucá (RR-PMDB) que todos os contratos de patrocínio, amistosos e fornecedores da CBF fossem analisados pela CPI. Os contratos serão solicitados por requerimento em uma reunião que acontece na próxima quinta-feira (20), às 10h.

Contratos

O primeiro dos contratos entregues por Jamil Chade à CPI é o da CBF com a empresa ISE, subsidiária do grupo saudita DAG, um dos maiores conglomerados econômicos daquele país. A companhia major, que possui mais de 38.000 funcionários, também controla bancos em países como Egito e Tunísia. No entanto, o contrato da ISE com a CBF traz como endereço desta subsidiária uma caixa postal nas Ilhas Cayman, sem qualquer estrutura física, funcionários ou escritório de apoio a trabalhos a serem executados.

Este contrato cedeu à ISE os direitos de negociação e promoção dos amistosos da seleção entre 2006 e 2012. Pelo documento, a CBF recebia US$ 1,1 milhão por jogo, e a empresa contratada podia negociar os direitos de transmissão dos jogos fora do Brasil, além de ficar com a renda das partidas, dentre outras fontes de receitas. Durante todo este período, a ISE subcontratou a empresa suíça Kentaro.

Outra subcontratação feita pela ISE, revelada na documentação trazida por Chade, foi com a Uptrend. Esta empresa recebeu 8,3 milhões de euros por 24 jogos da seleção e era controlada pelo ex-presidente do Barcelona Sandro Rosell. O endereço da Uptrend que aparece no contrato é de uma sala em Cherry Hill, nos Estados Unidos, também sem nenhuma infraestrutura relacionada a trabalhos de qualquer natureza relacionados à seleção brasileira.
– Na verdade, é apenas uma sala que serve justamente para ser alugada para reuniões ou talvez como fachada – sugeriu Chade.

O jornalista ainda repassou à CPI o contrato da CBF com a Pitch International. A citada empresa, que é inglesa, passou a ter os direitos sobre os amistosos da seleção de 2012 a 2022. Ainda foi repassada a minuta de um contrato que tratava da distribuição de dividendos relativos a esses jogos, que chegavam a US$ 132 milhões, também beneficiando intermediários e os próprios dirigentes da entidade.

Capitanias hereditárias

Na mesma linha de Chade, Juca Kfouri falou sobre a superestrutura que mantém o futebol brasileiro, também com base em relações de exploração do futebol. “As federações estaduais são capitanias hereditárias porque quem está menos tempo lá está há 20 anos”, afirmou.
Para o jornalista, uma alternativa para a mudança está na democratização do acesso ao poder na CBF “Esse é o nosso quadro geral: temos um problema estrutural para resolver, não vamos resolver isso sem democracia”, afirmou. Juca sugere que os atletas tenham mais poder de voto nas federações e na CBF.

O jornalista José Cruz deu um panorama histórico da organização do futebol brasileiro e também apontou que a democratização é o melhor caminho para moralizar o esporte.

José Cruz sugeriu que o jornalista Andrew Jennings, profundo conhecedor dos esquemas de corrupção, seja chamado para depor na CPI. Os senadores encaminharam requerimento para o convite, que ainda deve ser apreciado pelos parlamentares.

Com informações da Agência Senado.