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Jennings defende a participação do torcedor para nova estrutura do futebol mundial

Publicado em 03 de setembro de 2015 às 16:26

Brasília – O jornalista escocês da rede britânica BBC, Andrew Jennings, participou nesta quinta-feira (3) de audiência pública da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Futebol no Senado Federal e defendeu a participação dos torcedores para uma reforma da estrutura atual que administra o futebol mundial. Para Jennings, uma nova forma de gerir o esporte tem de ser gestada, contando com a participação do público torcedor.

“A FIFA e a CBF são entidades podres, que precisam urgentemente de um novo estatuto. Que elas não tomem mais o dinheiro das pessoas! Empoderem o público, não os afastem das decisões”, avaliou o jornalista na CPI, presidida pelo senador Romário (PSB-RJ).

Andrew Jennings defendeu a transparência em instituições esportivas, como a Federação Internacional de Futebol (FIFA) e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Segundo ele, a publicação de contas e contratos entre empresas de marketing esportivos e federações ou confederações; a divulgação de atas e locais de reunião, a transmissão de reuniões executivas via streaming e disponibilização ao público são algumas das ferramentas de transparência que devem ser colocadas em prática – e cobradas pelos torcedores.

Em depoimento à CPI do Futebol, o jornalista falou ainda sobre o esquema de corrupção que envolve a CBF e FIFA e do participaram os brasileiros Ricardo Teixeira, João Havelange, José Maria Marin, Marco Polo Del Nero e José Hawilla, dono da empresa de marketing esportivo, Traffic.

“Estamos falando sobre uma conspiração criminosa. Não são atos individuais. É uma formação de quadrilha. A FIFA é um espelho da corrupção que existe”, disse Jennings.

De acordo com ele, essa estrutura de corrupção no futebol não ocorre somente em países específicos – como é o caso do envolvimento do Brasil. Se trata de um esquema montado em escala internacional, que envolve a venda de patrocínio, de direitos de imagem; empresas de marketing esportivo, de conglomerados de comunicação; federações e confederações de futebol em nível nacional e internacional.

Para Andrew Jennings, montou-se um esquema em que são pagos milhões de dólares em propinas e subornos; feitos superfaturamentos de contratos e esquemas de lavagem de dinheiro por meio do uso de intermediários que afastam as pessoas ou as empresas que desembolsam o dinheiro daqueles que o recebe. Esse esquema pode ser constatado recentemente pelas informações do FBI (Federal Bureau of Investigation) sobre o caso da FIFA.

“A desculpa daqueles que pagam de fato o suborno – patrocinadores ou donos dos direitos de transmissão – é que eles não sabiam. É claro que eles sabem, eles são empresários muito capacitados”, ironizou o jornalista.

Copa do Mundo de 2014
Jennings criticou ainda a postura do Brasil ao ceder às exigências da FIFA para a realização da Copa do Mundo de 2014 no país, em que foram feitas diversas concessões em relação à legislação nacional para que fossem atendidos os “padrões FIFA”, como a venda de bebida alcoólica nos estádios.

“Que tipo de orgulho um país tem ao deixar que gângsteres entrem e ditem as regras?”, avaliou.

Para ele, devem ser investigados todos os contratos relativos à Copa e as pessoas envolvidas na realização do mundial.

“Precisamos de cooperação internacional para combater a corrupção internacional. Vocês têm tudo pra fazer isso, dar um banho de investigação. Têm um corpo técnico de excelência, especialistas em transações financeiras e lavagem de dinheiro. Não desistam”, finalizou.