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Copa superestimada

Publicado em 13 de novembro de 2013 às 22:11

Galera,
Para o Comitê Organizador Local da Copa 2014 (COL), “90% dos brasileiros consideram a Copa do Mundo muito importante para o país”. Tá de sacanagem, né?

Como informei aqui no site, há poucos dias aconteceu na Dinamarca a Play the Game, uma das maiores conferências sobre o esporte no mundo. Participaram mais de 300 especialistas de 38 países. Entre os sete brasileiros convidados, estava o diretor de Comunicação do COL, Saint Claire Milesi.

O tema da apresentação dele era sobre os “legados, mitos e percepções equivocadas sobre a Copa 2014”. Na cara dura, ele tentou convencer o mundo de que a Copa no Brasil tem sido injustiçada. E de tabela, ainda tentou provar que os protestos não expressam a indignação da maioria dos brasileiros em relação à organização do Mundial.

Para tentar enganar os gringos, Milesi mostrou dados já bem batidos de pesquisas fajutas e de dois estudos (Value Partners; Ernest & Young Brasil e Fundação Getúlio Vargas) encomendados pelo governo brasileiro e pela FIFA. Ele destacou inúmeros supostos benefícios para justificar o desperdício de dinheiro público e os gastos exorbitantes na preparação do megaevento.

Sobretudo, no que se refere aos impactos econômicos e aos legados que deverão (ou deveriam) ser herdados pelos brasileiros. Entre outros absurdos, disse que os ingressos não são caros e que são acessíveis aos pobres, contrariando uma declaração do próprio ministro do Esporte Aldo Rebelo a uma revista semanal.

Afirmou também que o preço do assento no Brasil será mais baixo do que nas Copas da África do Sul e do Japão/Koreia. Logo foi desmentido pelo professor Cristhopher Gaffney, da Universidade Federal Fluminense, também presente no evento.

Disse ainda que os empréstimos feitos para os estádios não são da União, querendo convencer que não há dinheiro público investido em arenas. Realmente não são. Mas ele só não revelou que alguns dos estádios foram construídos com financiamentos concedidos pelo BNDES aos estados. Portanto é sim dinheiro público, já que em algum momento os governos estaduais deverão pagar os empréstimos.

Mas a verdade é teimosa e insiste em desmentir discursos oportunistas e planilhas fraudulentas. Logo após sua apresentação, lá na Dinamarca, Milesi foi veementemente confrontado e, certo momento, questionado por um professor alemão se as manifestações nas ruas brasileiras não mostravam o contrário do que ele havia apresentado. Que vergonha!

Governo superestimou Copa

Aqui no Brasil, o professor do Instituto de Economia da Unicamp Marcelo Wheishaupt Proni e o seu orientando, Leonardo Oliveira da Silva, confrontaram os dados apresentados nos dois estudos oficiais para constatarem o óbvio: “os efeitos esperados da Copa 2014 foram superestimados nas projeções divulgadas pelo governo federal”.

Entre tantas informações desencontradas, chamou a atenção dos pesquisadores a diferença de mais de R$ 40 bilhões entre os dois estudos nas previsões de impacto sobre a circulação monetária, assim como a divergência no volume considerado investimentos programados. Eles também consideraram os números referentes à geração de empregos muito exagerados.

A conclusão consta no texto escrito pelos dois economistas para subsidiar o debate sobre os efeitos da realização da Copa do Mundo no Brasil. Ele foi publicado na página da universidade, na seção Textos para Discussão (www.eco.unicamp.br/index.php/textos).

“De modo a legitimar o volume de gastos muito elevado, os governos estaduais e federal se apoiam em estudos de impactos econômicos que superestimam os resultados esperados e alimentam altas expectativas em relação aos efeitos positivos da Copa”.

Para Marcelo Proni e Leonardo Silva, há sérios motivos para questionar essas previsões. Além da desconfiança gerada pelos interesses políticos e econômicos envolvidos, experiências anteriores têm demonstrado que as estimativas governamentais são quase sempre superestimadas.

“Alguns estudos introduzem hipóteses que simplificam demais as projeções e ignoram preceitos econômicos básicos, uma vez que suas motivações parecem estar associadas com a necessidade de convencimento da opinião pública”, completam.

Os pesquisadores vão além e acreditam que alguns estádios se tornarão, sim, “elefantes brancos”, ao contrário do que afirmam as autoridades. Segundo eles, pelo menos quatro arenas (Cuiabá, Natal, Brasília e Manaus) podem ficar subutilizadas e não gerar receitas que cubram os custos de manutenção.

Outro ponto destacado no artigo da Unicamp é que o Mundial pode até elevar o dinamismo da economia, mas ao mesmo tempo pode provocar o endividamento público e a inflação. “A Copa tem contribuído para legitimar gastos públicos na infraestrutura e estabelecer cronograma e execução dos projetos, induzindo gastos que, apesar de prioritários, poderiam ser adiados em razão de eventuais restrições econômicas. As obras não deveriam depender da Copa para serem realizadas”.

Com argumentos irrefutáveis, os pesquisadores da Unicamp ilustram o que o senso comum também já percebeu: os maiores beneficiados com a Copa do Mundo não serão os brasileiros, mas a FIFA, os grupos de comunicação, os patrocinadores e as empreiteiras.