Data: 20/08/2015
60 anos – Discurso de Romário em homenagem à Apae
SESSÃO ESPECIAL – 60 ANOS DA APAE BRASIL
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores,
É com muita honra e alegria que ocupo essa tribuna para saudar os 60 anos da APAE Brasil, uma das instituições mais queridas e respeitadas de todo o país. Sessenta anos é uma vida inteira, e não foram poucas as pessoas, voluntários da APAE, que dedicaram suas vidas a essa causa.
Todo mundo sabe da minha luta, como cidadão e como político, em favor das pessoas com deficiência. Como cidadão, comecei essa luta dez anos atrás, quando nasceu a minha princesa, a Ivy, que tem Síndrome de Down. Minha luta como político começou quando assumi o mandato de Deputado Federal, cinco anos atrás.
Pois bem: eu nem havia nascido e a APAE já carregava essa bandeira por todo o Brasil. Nem este prédio nem esta cidade existiam e a primeira APAE já estava nessa batalha.
O Brasil era muito diferente nos anos 50, quando nasceram as primeiras APAEs. A participação das pessoas com deficiência na sociedade era um tabu: pouco se falava sobre isso. O preconceito e a falta de oportunidades as condenavam a ficar restritas às suas casas. O acesso a assistência médica e educação, que hoje ainda é limitado, era quase inexistente. O governo lavava as mãos, como ainda lava, ignorando completamente as necessidades dessas pessoas. Mas havia quem se importasse, e muito. As mães, sempre as mães. E os pais, os irmãos, a família. Foi através do amor e da luta incansável das famílias que nasceu isso tudo: foi uma mãe que começou essa bela história.
Beatrice Bemis, cidadã americana que tinha um filho com deficiência, chegou ao Rio de Janeiro em 1954 e ficou impressionada ao constatar que não havia uma única entidade especializada na assistência a pessoas com deficiência no Brasil. Ela, que já havia ajudado a criar entidades semelhantes nos Estados Unidos, juntou suas forças às de várias outras famílias e assim nasceu a primeira APAE.
Hoje são mais de duas mil em todo o Brasil, que se dedicam à atenção integral a mais de 250.000 pessoas com deficiência. O movimento Apaeano é hoje o maior movimento social do mundo em sua área de atuação. O trabalho da APAE na educação, na saúde e na defesa dos direitos das pessoas com deficiência atravessou fronteiras e hoje é reconhecido em todo o mundo.
Tão importante quanto a assistência prestada a cada família foi o avanço da sociedade, que aos poucos foi se abrindo e entendendo os benefícios da convivência. Todo mundo ganha com a inclusão. Se hoje vemos, no Brasil, pessoas com deficiência trabalhando, competindo no esporte, aparecendo em programas de televisão, isso acontece porque a sociedade mudou, e a APAE teve um papel fundamental nessa conscientização. Essa mudança de percepção abriu caminho para avanços como a Lei Brasileira da Inclusão, de autoria do Senador Paulo Paim, um projeto que eu tive a honra de relatar no Senado. São conquistas que se somam, e muitas outras ainda são necessárias.
Elogiar a APAE é fácil: eu poderia ficar horas aqui citando números e feitos. Mas eu prefiro destacar um lado menos visível. Queria falar do trabalho amoroso e incansável dos milhares de voluntários da APAE, que dedicam o seu tempo a cuidar de quem mais precisa. Faça chuva ou faça sol eles estão lá: recebendo, alimentando, fazendo sorrir.
O símbolo da APAE é uma flor, protegida por duas mãos. Nada mais apropriado, porque ao mesmo tempo em que uma flor requer cuidados, ela também traz beleza, também ilumina a vida. O símbolo da APAE mostra as mãos dos voluntários, cuidando e protegendo. Então eu queria deixar aqui o meu agradecimento e a minha homenagem a essas pessoas. Que papai do céu continue abençoando vocês com muita saúde e muita energia.
Eu gostaria de renovar hoje o meu compromisso de apoiar a APAE nessa luta de tantas décadas. A gente sabe que cada avanço é construído com muito suor, muita luta, muita paciência, então é preciso unir esforços. Agradeço à APAE, na figura de seus dirigentes, por essa parceria que vem desde o meu mandato de Deputado Federal, desejando que ela continue por muitos anos.
Gostaria de aproveitar para divulgar que, entre os dias 21 e 28 de agosto – a partir de amanhã, portanto, estaremos comemorando a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, promovida pela APAE Brasil. A deficiência intelectual, infelizmente, ainda é vista com muito preconceito, e o objetivo dessa campanha é combater isso através da inclusão. O lema de 2015 é “inclusão se conquista com autonomia”. As pessoas com deficiência intelectual podem e querem ter uma vida com mais autonomia, onde possam contribuir através do trabalho e ter uma vida ativa nas comunidades a que pertencem. Eles só precisam de uma chance, e essa campanha é um apelo pra que essa chance seja dada. Haverá muitas atividades de comemoração em todo o Brasil e eu convido a todos a participarem dos eventos.
Por fim, queria deixar aqui o meu caloroso abraço de parabéns à APAE. Que essa jovem senhora de sessenta anos receba de presente um apoio cada vez mais forte do Congresso Nacional e de toda a sociedade, nessa nobre missão de construir um Brasil mais justo para os mais de 45 milhões de brasileiros que têm alguma deficiência.
Era o que tinha a dizer. Muito obrigado.