Romário pede ação do Governo na crise de segurança do ES e do país
Publicado em 08 de fevereiro de 2017 às 15:49
Em discurso no plenário, Romário se solidariza com a população do Espírito Santo, pede ação do Governo Federal e apela aos policiais militares que revindiquem, sem expor a população à barbárie. Leia na íntegra:
“Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores,
Subo a esta tribuna para tratar de uma situação preocupante, que está afligindo a população do Espírito Santo neste exato momento, mas que diz respeito ao Brasil inteiro.
Desde o último sábado, os familiares de policiais militares do estado, em protesto contra os baixos salários e as condições de trabalho, acamparam em frente aos quartéis, impedindo o patrulhamento da PM nas ruas de Vitória, Vila Velha, Cariacica, Linhares e outras cidades.
O que se seguiu foram cenas de caos. O comércio fechou as portas, e mesmo assim foram registrados vários saques e depredações. Os ônibus deixaram de circular, as aulas foram paralisadas. A população, assustada, correu aos supermercados para estocar comida e se fechou dentro de casa.
Ruas desertas, tiroteios e carros incendiados. Segundo o sindicato dos policiais civis, ocorreram 87 mortes violentas na Grande Vitória desde sábado. A população está pedindo socorro através das redes sociais, compartilhando fotos e vídeos do que está acontecendo. São imagens que parecem saídas de países em guerra, e não das ruas de uma de nossas capitais.
Senhor Presidente, a população do Espírito Santo está encurralada e amedrontada. A situação é um barril de pólvora que corre o risco de se alastrar por todo o país.
E por isso eu fico muito preocupado com a situação do Rio de Janeiro, onde, além de tudo, os salários dos policiais estão atrasados e já se vive um caos em todos os serviços públicos, causado pela corrupção e pela incompetência. O Governo do Estado do Rio de Janeiro precisa agir rápido, e infelizmente não se pode esperar muita coisa de um governador incapacitado, incompetente e brincalhão.
Todos sabemos que a segurança pública é um dos maiores problemas do Brasil. Infelizmente, nos anos de vacas gordas que tivemos, pouco se fez para atacar o problema e suas causas. O que aconteceu foi um jogo de empurra entre o governo federal, os estados e municípios, cada um tentando jogar a responsabilidade para o outro.
A segurança pública só virava prioridade quando se tinha uma Copa do Mundo ou uma Olimpíada para organizar, como se os turistas estrangeiros fossem mais importantes que os cidadãos brasileiros, que sofrem todos os dias nas mãos de bandidos. Quem esteve no Rio de Janeiro nos dias de Olimpíada testemunhou o cenário dos sonhos que é viver numa cidade tranquila, com policiamento e famílias andando calmamente nas ruas. Acabou o evento, voltou tudo ao que era antes.
Agora, além das dificuldades todas, temos uma crise econômica que piora o problema, porque os estados estão todos quebrados. Quem tem dinheiro se fecha em condomínios privados, onde até a academia e o supermercado estão do lado de dentro. E quem tem que pegar um trem ou um ônibus de madrugada para ir trabalhar? E as mulheres, que além dos assaltos sofrem o risco da violência sexual?
Não existe solução fácil, ainda mais para um problema que foi negligenciado por décadas. O salário dos policiais está abaixo do desejável, as condições de trabalho são ruins e o contingente é menor do que o necessário. Do outro lado temos estados falidos e governantes que não conseguem sequer pagar os salários e os compromissos assumidos. E no meio dos dois, uma população que fica refém da criminalidade.
O único caminho, Senhor Presidente, é o diálogo. Desta tribuna eu lanço um apelo ao governo federal, para que organize, com urgência, uma força-tarefa para trabalhar em conjunto com os estados.
Infelizmente, no meio dessa crise, o ministro da justiça se licenciou do cargo para trabalhar pela aprovação do seu nome ao STF. Mas quem vai votar essa aprovação somos nós, Senadores. Portanto, vamos cobrar do governo a nomeação de um ministro da justiça que tenha conhecimento e atitude, que seja um nome técnico, e não uma indicação política. Precisamos de um ministro dinâmico e conciliador, porque o momento é grave e a urgência é extrema.
Eu apelo também aos policiais militares, que são servidores públicos honrados. Não apenas os policiais do Espírito Santo, mas também do meu Rio de Janeiro e de todos os estados, para que encontrem uma maneira de reivindicar os seus direitos, que são justos, sem expor a população à barbárie que se instalou em Vitória e outras cidades.
Finalmente, peço aos governos estaduais que trabalhem pela valorização do profissional de segurança pública, olhando para a questão de forma ampla e criando uma ponte permanente de diálogo com as polícias, para que a população possa voltar às ruas, sem medo, e trabalhar por uma vida melhor para as suas famílias.
Era isso o que eu tinha a dizer. Muito obrigado.”
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