“Não há cura, nem prevenção, mas há muito o que fazer em busca da qualidade de vida das pessoas com nanismo”, a fala da servidora pública Liana Cristina Hones é o diagnóstico de um problema social das pessoas com nanismo. Embora sejam considerados pessoas com deficiência, eles ainda não gozam da mesma visibilidade, nem de direitos equivalentes.
O assunto foi tema de uma audiência pública, nesta quarta-feira (29), no Senado. De iniciativa do senador Romário (PSB-RJ), o encontro deu origem a um projeto de lei que institui o Dia Nacional do Combate ao Preconceito às Pessoas com Nanismo. A data proposta é o dia 25 de outubro, sugerida pela presidente da Associação de Nanismo do Estado do Rio de Janeiro (Anaerj), Kenia Maria de Souza.
Ser motivo de piada e zombaria faz parte da vida da maioria das pessoas com nanismo. Liana, que é membro da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, relata o pânico que tomou conta dela depois de parar o carro em frente a adolescentes na saída de uma escola. Ao ser vista, dirigindo o próprio veículo, assistiu os jovens terem um ataque de riso a ponto de quase rolarem no chão, chamando a atenção de outros motoristas e pessoas que passavam na rua. “Minha perna começou a tremer, fiquei sem saber o que fazer. Pior foi ter que aceitar que aquilo ainda aconteceria muitas vezes na minha vida”, lamentou. Luiz Numeriano, representante da Associação Gente Pequena do Brasil, conta que o problema afeta principalmente as crianças, devido à pouca estrutura emocional. “Elas não querem ir à escola, é uma atitude defensiva”, afirma.
A baixa estatura, principal característica do nanismo, faz com que essas pessoas carreguem durante a vida inteira o estigma de serem vistos como personagens infantis. O problema afeta gravemente a vida social daqueles que têm o crescimento afetado por uma alteração genética. “A discriminação social representa um dificultador para o acesso dessas pessoas ao mercado de trabalho. Por essa razão, eles aceitam trabalhos que ridicularizam a sua imagem em função de seu tamanho, tornando-os alvo de piadas e lendas urbanas”, explica o senador Romário. Para o parlamentar, a criação da data vai ter implicações na educação, nas relações entre alunos, na produção cultural, nos esportes, no mundo do trabalho e na sensibilização da sociedade quanto ao respeito às pessoas que apresentam essa característica.
“As empresas nos contratam apenas para cumprir a Lei. Geralmente são cargos de baixa remuneração, de baixa complexidade, não oferecendo assim a possibilidade de crescimento, a oportunidade da pessoa com nanismo mostrar a sua capacidade e ser reconhecido pelo seu mérito”, explica o servidor público Vanderlei Link, representante das Pessoas com Nanismo.
Além do estigma, falta informação e acessibilidade adequada nos veículos de transportes, prédios, banheiros públicos e bancos. A acessibilidade no Brasil deixa a desejar para cegos, cadeirantes, surdos e é ainda pior para as pessoas com nanismo. “Precisamos de estudos, de falar das nossas necessidades no ambiente urbano e familiar”, defende a representante da Associação Pequenos Guerreiros, Lorena de Castro Oliveira.
Para driblar as dificuldade, muitos encontram no esporte uma forma de driblar os problemas do cotidiano. Com 25 medalhas conquistadas nos Jogos Parapan-Americanos, Luciano Bezerra Dantas, atleta profissional de halterofilismo, explica que não é porque tem uma baixa estatura que não será capaz de conquistar títulos para o nosso país.Ele encorajou as crianças não se sentirem inferiores a ninguém.
“A sociedade infelizmente descrimina o nanismo, mas eu não entendo o porquê. Eu sou feliz, eu consigo o que quero e não desisto nunca dos meus sonhos. Espero que todos vocês também pensem assim”, aconselhou.
Muito prestigiada a audiência contou ainda com a presença da ministra do Superior Tribunal de Justiça, Laurita Vaz, da presidente da Associação de Nanismo do Estado do Rio de Janeiro (Anaerj), Kenia Maria de Souza e do representante dos Pais das Pessoas com Nanismo, Marlos Nogueira. Os senadores Ronaldo Caiado, Hélio José, Marta Suplicy, Regina Souza, Lasier Martins e Carmem Zanotto também prestigiaram o evento e apoiaram a causa.