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Del Nero alega inocência; Romário manda dirigente sair da CBF

Publicado em 16 de dezembro de 2015 às 20:01

Brasília – O presidente licenciado da CBF, Marco Polo Del Nero, depôs nesta quarta-feira (16) na CPI do Futebol, no Senado. Em três horas de reunião, o cartola declarou ser inocente, disse que a CBF não é corrupta e fugiu da maioria das perguntas. “Não me lembro”, respondeu inúmeras vezes.

“O senhor está formalmente indiciado pela Justiça americana, acusado de participação em um esquema criminoso que envolve mais de US$ 200 milhões em recebimento de propinas. Até então o senhor negava ser o conspirador da denúncia inicial. E agora? Como negar a sua participação nesse esquema?”, disparou o senador Romário (PSB-RJ), presidente da CPI.

“Eu vou provar que há um equívoco muito grande nesse indiciamento do governo americano”, respondeu Del Nero, na primeira de muitas negativas da tarde desta quarta-feira. Ele afirmou não ter detalhes sobre o processo investigativo conduzido pela Justiça dos Estados Unidos, disse que goza da presunção da inocência e que vai aguardar o devido processo legal.

Em seguida, o cartola negou que tivesse cometidos erros nos cargos dos quais se afastou na FIFA, na CBF e na Conmebol. “Pedi licença para me defender”, justificou.

Del Nero negou ter feito parte do Comitê Organizado Local (COL) da Copa de 2014, disse ter participado de algumas reuniões sobre o mundial por fazer parte do Comitê Executivo da FIFA e afirmou não ter conhecimento sobre os contratos firmados pelo COL, sobre os quais pairam suspeitas de irregularidades relacionadas a pagamentos e isenções fiscais.

De acordo com as investigações da CPI, o COL pagou em 2013 R$ 985 mil a título de participação nos lucros ou resultados para o ex-presidente da CBF e então presidente do COL, José Maria Marin. Ao ser questionado se recebeu alguma distribuição de lucros, Del Nero também negou e disse desconhecer quaisquer movimentações financeiras da CBF durante o período em que foi vice-presidente da entidade. O cartola assumiu a presidência em abril de 2015.

Ao ser confrontado por Romário sobre os critérios para a indicação para a ocupação de cargos na CBF, para os quais Del Nero indicou mais de quatro deputados federais – entre eles, o recém-empossado deputado federal Marcus Vicente (PP-ES), que ocupou a presidência da entidade no início do afastamento do cartola, ele respondeu: “Ué. Porque eles gostam de futebol. Se interessaram em trabalhar pelo futebol”.

“Minha mãe também gosta”, retrucou o senador Romário, apoiado por Randolfe Rodrigues (REDE-AP): “Desculpa, senhor, mas esse critério contempla 200 milhões de brasileiros”.

Entre as diversas negativas de Marco Polo Del Nero, ao ser questionado sobre ter usado um jatinho particular da CBF para ir a Barbados, paraíso fiscal no Caribe, acompanhado dos ex-presidentes da entidade, José Maria Marin e Ricardo Teixeira, o cartola garantiu nunca ter ido ao país.

Outra recusa feita por parte de Del Nero foi a de que ele se reuniu com Marin e José Hawilla, dono da empresa de marketing esportivo Traffic, envolvida em esquemas de corrupção, lavagem de dinheiro, entre outros crimes na FIFA investigados pelo FBI.

Medo de ser preso
Sem sair do Brasil desde que José Maria Marin foi preso na Suíça, Marco Polo Del Nero foi questionado por inúmeros senadores se tinha medo de ser preso. “Não tenho motivo para ser preso”, declarou, e foi imediatamente confrontado por Romário: “Motivo tem de sobra para o senhor ser preso. Tem vários motivos, corrupção, formação de quadrilha. O senhor além de ser corrupto, ladrão, também é mentiroso”, complementou o senador.

Movimentação financeira atípica
O senador Randolfe Rodrigues questionou a movimentação de R$ 27 milhões pelo cartola em 2014, baseado em informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão Ministério da Fazenda. Del Nero negou. O parlamentar também enumerou uma série de doações financeiras feitas a ex-namoradas. Carolina Gala recebeu, em 2013 e 2014, a quantia de R$ 1,14 milhão. Já Carolina de Oliva Muniz Ferreira recebeu, segundo registros do imposto de renda, R$ 130 mil, em 2014. Apesar das doações constarem no imposto de renda, não constam nas movimentações bancárias. O fato indica que Del Nero fez as doações em espécie. “O senhor tem alguma aversão à transferências bancárias?”, ironizou o senador do Amapá. “Não”, respondeu brevemente o cartola.

Romário pede aprovação de requerimentos
Ao finalizar a última reunião da CPI em 2015, Romário pediu apoio dos membros da comissão para aprovar requerimentos que estão na pauta.

“Eu gostaria só de pedir aos nobres pares que, depois de tudo que foi colocado aqui, principalmente do que nós ouvimos, nós temos, a partir do ano que vem, alguns requerimentos já colocados. Os senhores pensem com tranquilidade, com calma, e decidam se realmente nós devemos ou não devemos ajudar o futebol. Eu acredito que aprovar esses requerimentos, que todos sabem quais são, será de uma grande importância para a nossa CPI e para o andamento da moralidade do futebol”, disse.

Romário se referia aos requerimentos que pedem a quebra de sigilo bancário e fiscal de empresas e pessoas ligadas à CBF e aos seus dirigentes.