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“O futebol no Brasil se coloca acima das leis”, aponta especialista em gestão esportiva

Publicado em 12 de fevereiro de 2014 às 23:14

Reunião do Proforte

O especialista em Marketing e Gestão Esportiva, Amir Somoggi, afirmou, nesta terça-feira (12), na Câmara dos Deputados que o futebol no Brasil se coloca acima das leis. Para ele, a postura é assumida quando os clubes não recolhem impostos, como INSS e FGTS. “Eles prometem R$ 700 mil em salário para os jogadores e não recolhem os tributos sociais”, declarou. Somoggi foi convidado para apresentar um panorama das finanças dos clubes brasileiros na Comissão Especial que analisa o Projeto de Lei 6753/13, que cria o Proforte.

“Por conta do projeto, muito clubes já pararam de recolher impostos correntes, já considerando jogar este imposto no Proforte”, alertou o consultor. A fala de dois dos maiores especialistas em orçamento esportivo do País foi um duro golpe na defesa do projeto como solução para o endividamento dos clubes brasileiros.

Além de Amir Somoggi, o diretor da Pluri Consultoria, Fernando Ferreira, apresentou um prognóstico nada animador do setor. Segundo Ferreira, os clubes apresentam um quadro de “finanças descontroladas”. Hoje o patrimônio líquido dos 25 maiores clubes brasileiro é negativo, ou seja, se todos fossem fechados, ainda seria necessário encontrar no mercado mais R$ 62 milhões para cobrir dívidas com credores diversos.

Acesse as apresentações dos especialistas aqui:

Os principais problemas do futebol no Brasil: Fernando Ferreira Pluri Consultoria
A evolução do endividamento dos maiores clubes do Brasil: Amir Somogg

Os dados apresentados confrontam a ideia de que a redução da dívida com o Governo, em troca de uma contrapartida social, resolveria o problema das finanças dos clubes, isso porque as entidades esportivas continuariam com altíssimas dívidas com bancos. “Os clubes têm um problema claro de gestão. Estão gastando muito mais do que ganham em função de quererem ser campeão todos os anos. A dívida que mais tem crescido é com os bancos, que geram uma despesa financeira superior a R$ 300 milhões por ano. o Proforte não vai resolver este problema.”, aponta Somoggi.

O diagnóstico apresentado pelo especialista surpreendeu os deputados. Principal voz contra a anistia das dívidas, o deputado federal Romário (PSB-RJ), elogiou a apresentação. Para o ex-jogador de futebol, o projeto deve ajudar os clubes, mas sem perdoar as dívidas. “O que o Sr. falou aqui comprova o que eu venho falando. Este quadro é resultado da incompetência, da má administração e desonestidade que reina no meio”, declarou o “Baixinho”. O parlamentar ainda sugeriu recomeçar o texto do projeto do zero. “Do que a gente acabou de ouvir sobre a realidade do futebol, eu gostaria de pedir para que seja feita uma revisão total do Proforte. Na minha opinião, só continuaria o nome. O resto – todos os artigos – realmente não serve para uma ajuda no futebol, pelo contrário”, defendeu Romário.

Dívidas crescem mais que receita

Amir Somoggi mostrou que, na última década, o futebol brasileiro tem taxa de crescimento anual de 16%, muito acima do PIB brasileiro e da indústria, por exemplo. Ainda assim, o endividamento não para de crescer.

Em 2003, a receita dos 100 maiores clubes era de R$ 800 milhões. Em 2012, chegou a R$ 3,5 bilhões. Uma evolução de 335%. Já o endividamento, em 2003, era de R$ 1,2 bilhões e, em 2012, chegou a R$ 5,5 bilhões. O crescimento das dívidas foi maior que a evolução da receita, um salto de 358%. O estudo ainda detalha que, a partir de 2009, as dívidas cresceram muito em virtude de empréstimos e diferentes formas de financiamento externo dos clubes. A conclusão do especialista é que, apesar do crescimento do futebol brasileiro, as finanças continuam em descontrole.

“Se não houver contrapartida concreta que altere o modelo de gestão dos clubes, o Proforte não resolverá o problema. Esta casa tem o papel de fazer uma lei dura para os clubes, com um modelo que puna as más administrações e bonifique as boas”, concluiu o especialista, que ainda pediu a participação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na implementação de novas regras. Para ele, sem a CBF, o Proforte não existe.

Proforte: O texto cria o Programa de Fortalecimento dos Esportes Olímpicos (Proforte) para renegociar dívidas tributárias federais acima de R$ 20 mil acumuladas por entidades desportivas, como ligas e clubes. As dívidas poderão ser negociadas em até 20 anos, sendo que até 90% da parcela mensal poderá ser paga com a concessão de bolsas a atletas e investimentos em equipamentos e infraestrutura. Apenas os 10% restantes serão pagos em dinheiro.